MUITO ALÉM DO AGORA
- Giovana Sandrin
- 22 de set.
- 2 min de leitura
Depois de feita, a tatuagem passa a fazer parte de um corpo vivo. Esse corpo é afetado pelo tempo e, consequentemente, a tatuagem também. Quando mais jovem, eu não tinha em mente a percepção da longevidade: queria apenas entregar um bom resultado momentâneo. Esse, porém, é um grande erro que vejo repetido em muitos aprendizes. A boa tatuagem é aquela que envelhece bem (assim como um corpo alinhado é aquele que igualmente envelhece bem).
O aprendiz atento tem a possibilidade de absorver o conhecimento do mais experiente — e foi através dos conselhos deles que pude observar o que era, ou não, duradouro. São inúmeros exemplos nos estilos clássicos de tatuagem, e neles encontramos ensinamentos importantes:
O maior contraste vem da separação delimitada de preto puro e pele;
É necessário criar respiros de pele em meio ao design;
Traços, quando cicatrizados após mais de 5 anos, ganham uma espessura além da numeração inicial;
O uso de preto puro é imprescindível, seja no elemento principal ou no fundo;
O design precisa estar bem construído e delimitado já na fase de traço;
Traços grossos são fundamentais para uma boa separação de planos.
Esses ensinamentos não são regras absolutas — e, se quiser olhar por esse lado, para toda regra existe uma exceção. No meu caso, eles me fizeram pensar na tatuagem a longo prazo e, consequentemente, me permitiram ver belas cicatrizações anos depois de aplicá-las.
Em meados de 2017, tive muita dificuldade em usar dois elementos que hoje considero base: o preto puro e os traços grossos. Inspirada por tatuagens coreanas e chinesas, extremamente pequenas, detalhadas e claras, passei a tatuar com preto diluído e agulhas 1rl. O resultado foi óbvio: cicatrizações acinzentadas, falhas e inúmeros retoques.
A parte boa é que estive acompanhada dos bons. Estar em um estúdio profissional, cercada de pessoas anos à frente em experiência, me possibilitou errar menos. Minha resistência a traços grossos era tão grande que a primeira vez que usei foi por insistência de um amigo de trabalho: ele montou sua própria bobina Micky Sharpz de 14rl e colocou sobre minha bancada. Não houve escapatória — e eu nunca mais os deixei de lado.
Traços grossos dão estrutura ao design, auxiliam na composição e garantem a separação de planos.
Na tatuagem, assim como em qualquer coisa nova à qual nos comprometemos, começamos sendo incompetentes. Aceitar essa vulnerabilidade, trilhar o caminho dos erros e acertos, persistir e nunca deixar de estudar — essa é a chave para o desenvolvimento.

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